A produção e interpretação de dados relacionados às atividades humanas sempre fomentou a evolução da tecnologia que atualmente constitui como um dos pilares da civilização moderna. Na década de 70, no séc. XX, não era diferente. Os setores comercial e industrial da época já manifestavam o interesse em obter acesso mais rápido aos seus registros em decorrência do armazenamento convencional de arquivos, bem como reduzir a redundância e inconsistência dos dados até que fosse possível compartilhá-los, garantindo certo nível de segurança. Apostando nesse mercado, a IBM (International Business Machines) iniciou suas pesquisas determinada a oferecer uma ferramenta que atendesse à nova demanda. Durante as pesquisas, alguns modelos de bancos de dados foram explorados, dentre eles, o hierárquico, de rede e relacional. Nesse contexto, o modelo de dados deve ser entendido como o conjunto de ferramentas conceituais para a descrição de dados, seus relacionamentos, semântica e restrições que mantenham a consistência. Esses modelos se subdividem em três grupos: lógicos baseados em objetos, lógicos baseados em registros e modelo físicos de dados.
Retornando à pesquisa da IBM, ela batizou o resultado do projeto inicial com o nome System R, visionário na implementação de sistemas de bancos de dados relacionais e na implementação da SQL (Structured Query Language), embora não fosse integralmente fiel ao proposto por Codd em suas regras para o modelo relacional. Na época seus autores divulgaram generosamente os detalhes de seu objeto de estudos à comunidade por meio de artigos, o que encorajou dois pesquisadores de Berkley, os cientistas Michael Stonebraker e Eugene Wong, a desenvolverem o próprio projeto de banco de dados relacional. Ambos já haviam arrecadado fundos com o projeto INGRES (Interective Graphics Retrieval System) – um banco de dados geográfico que fora desenvolvido para um grupo econômico, implementado por um grupo de estudantes e financiado por órgãos de pesquisa do governo norte-americano – o que garantiria subsídio ao início do projeto. Do projeto “INGRES” derivaram outros sistemas de bancos de dados, tais como SQL Server, Sybase e o próprio PostgreSQL.
O projeto Postgres foi iniciado em 1986 na Universidade de Berkley, e sua proposta era suprir as dificuldades impostas pelo INGRES, como a manipulação de tipos definidos pelo usuário (hoje conhecidos como objetos) pelo sistema relacional e a de grande volume de armazenamento. Através dessa lógica, o nome PostgreSQL veio da aglutinação de “post-INGRES” (após o INGRES).
Em 1994 o PostQUEL, que era a linguagem nativa para interpretação de consultas implementada pelo Postgres, foi substituída pelo interpretador SQL. Esse foi um marco importante na história do projeto, que após isso passou a ser chamado PostgreSQL.
PostgreSQL
O PostgreSQL utiliza o modelo lógico baseado em registros através do modelo relacional. Adicionalmente, o projeto atual permite manipulações diretas análogas ao conceito da orientação a objetos, como herança, polimorfismo e o uso de objetos. É distribuído sob a licença BSD (Berkley Software Distribution), que caracteriza o software como pertencendo ao domínio público e, portanto, livremente personalizável, exigindo somente o reconhecimento autoral para a distribuição do binário, versão original ou alterada. Essa licença é muito permissível e viabiliza o funcionamento de softwares em diferentes formatos de licença trabalhando juntos. Não se pode dizer que a licença BSD é necessariamente melhor que a licença “concorrente”, GPL (Gnu General Public License). A questão é que a primeira é menos restritiva. Note que tanto a licença BSD quanto o Postgres tiveram origem no mesmo local, a Universidade de Berkley.
A norma ACID, acrônimo para os conceitos de Atomicidade, Consistência, Isolamento e Durabilidade, que representam os critérios básicos para transações e recuperações a falhas, é integralmente implementada pelo PostgreSQL. Essas propriedades asseguram aspectos essenciais para a qualidade das operações, tais como controle de integridade referencial e de concorrência de multi-versão, ou MVCC (Multiversion Concurrency Control), além de ser premissa do modelo relacional.
Existem muitas implementações maduras no PostgreSQL, tais como replicação síncrona e assíncrona, segurança SSL(Secure Socket Layer) e criptografia nativos, utilização de clusters de dados, operação com multithreads, multiplataforma, suporte a 24 idiomas, backups PITR (Point-In-Time Recovery), áreas de armazenamento (tablespaces), pontos de salvamento (savepoins), subconsultas e visões atualizáveis, controle de locking, suporte à definição de funções em PL/PgSQL, Perl, Python, Ruby, dentre outras linguagens de programação, foreign data-wrappers, alerta e failover automatizado para ambientes de missão crítica, além de inúmeras características vantajosas. Existe também o interesse crescente da comunidade em apoiar o desenvolvimento do software através de contribuições e patrocínios, como é o caso da Hewlett-Packard, VMware, EnterpriseDB, Fujitsu, Google, Skype e RedHat, para citar algumas. Por isso, o PostgreSQL é frequentemente apontado como ótima opção em projetos que demandem estabilidade e facilidade de uso conjugada a boa curva de aprendizado, visto que ostenta a reputação de ser o sistema gerenciador de banco de dados de código livre mais sofisticado disponível. Como dito anteriormente, o PostgreSQL é um projeto comunitário, open source, coordenado pelo PostgreSQL Global Development Group, e que não limita o escopo de suas capacidades, recursos e funcionalidades aos usuários, ou seja, está totalmente à disposição para qualquer um, a qualquer momento.
Um aspecto que corrobora o alinhamento às demandas mais atuais, como a disponibilidade de serviços em nuvem e a escalabilidade vertical, é o fato de que o PostgreSQL não é somente relacional: é multi-paradigma, agregando também funcionalidades No-SQL (Not Only SQL). Aqui temos um bom exemplo de como o uso de extensões pode ampliar a gama de possibilidades do sistema. O PGXN (PostgreSQL Extension Network) é um sistema de distribuição central para bibliotecas open source de extensão para o PostgreSQL. De forma similar, também existe o pgFoundry, que reúne diversos projetos relativos ao PostgreSQL.
A maioria das linguagens de programação modernas proveem interface nativa para conexões com o PostgreSQL. Como alternativa em caso de ausência, há disponibilidade de acesso através da interface ODBC (Open Database Connectivity), que permitiriam acesso por produtos da Microsoft como Access e Excel. Aplicações desenvolvidas em Java contam com o suporte oferecido pelo driver JDBC (Java Database Connectivity). Já para o PHP, teríamos o PDO (PHP Data Objects) como opção. O acesso aos dados ocorre de várias formas, podendo ser através de linha de comando (psql), pelo código SQL embutido na aplicação/framework, por cliente gráfico (pgAdmin III) ou via navegador web (phpPgAdmin), por exemplo.
Arquitetura e versionamento
Outro ponto forte do projeto é a sua arquitetura cliente-servidor (ver Figura 1), fazendo com que o acesso aos dados seja distribuído a clientes que não os acessam diretamente mas via processo no servidor (postmaster), mesmo que o cliente esteja acessando na mesma máquina onde o serviço está instalado. A seguir, uma forma simplificada de como esse acesso se dá, através de TCP/IP (Transfer Control Protocol/Internet Protocol) ou Internet, via tunelamento.
Figura 1. Arquitetura cliente-servidor implementada no PostgreSQL.
A Tabela 1 indica algumas das limitações para as capacidades de armazenamento.
Tamanho máximo de um banco |
Ilimitado |
Tamanho máximo de uma tabela |
32 TB |
Tamanho máximo de uma linha |
1,6 TB |
Tamanho máximo de um campo |
1 G ... |
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