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Não é de hoje que eu falo que a Palm perdeu o rumo. Desde o LifeDrive (o drive da vida), um produto que se proclama para todos os públicos, quando no primeiro semestre de Marketing, mesmo das faculdades mais furrecas, aprendemos que um produto para todos os públicos é um produto para público algum. Uma empresa que vem vivendo e um sistema operacional esticado acima do limite do aceitável e uma promessa de uma revolução no sistema operacional que já perfaz anos, uma empresa que então abandona o que sabia fazer, PDA''s, embusca do mercado de SmartPhones e, pelo menos isso, eles não estão de todos errados, já que o Treo vinha, veja bem, vinha pagando a hipoteca nos últimos anos. Uma empresa que faz um estardalhaço para lançar um novo produto, um tipo de UMPC e o cancela, na semana seguinte ao lançamento...

Isso tudo sem mencionar os Palms com problemas de fábrica, vedete desde os anos 2000, quando para ganhar competitividade a Palm cortou na própria carne, mas foi no departamento de qualidade e na qualificação de seus fornecedores, como a velha T5 com seus 15 minutos de atualização de ROM, os TX que também davam problemas de WEB principalmente, obrigando formatações e service packs, sem mencionar os TE, e Zire 71 e 72, respectivamente, Digitalizadora Maluca, Zunidos e Câmeras com ruídos (linhas coloridas sobre as imagens). Era a busca de mexer no preço cortando na qualidade, aumentar as vendas a qualquer custo.

Pois bem, agora chegamos ao final de 2007 e a Palm tem seu segundo semestre com prejuízos, e não foram poucos, USD 9.6 milhões. A previsão é que o semestre que vem serão ainda maiores os prejuízos. A venda de Handheld cairam mais 35% em cinco anos de quedas seguintes, a venda de Smartphones cresceram apenas 11% num mercado que duplicou do ano passado para este. E o que há de errado afinal?

Em primeiro lugar, um reflexo do mercado: se no passado eram comuns acessórios de Palms pelo resto do mundo, mesmo no Brasil achávamos acessórios aqui e alí, hoje, vindo de Buenos Ayres trago duas decepções na bagagem, primeiro as Palm Stores que eu tinha visto em julho de 2006 em terras portenhas estão fechadas. Não fechadas desoladas, nem existem mais, já há outras lojas em seus lugares, nem sequer relacionadas com informática móvel. A segunda os FreeShoppings (os 4, ida, chegada, partida e volta da partida) não tinham um Palm, uma caneta reserva, nada, nada, nada para vender da Palm, sequer para a série Smartphones Treo''s e Centro''s.

Além de estar perdendo mercado, esta perdendo também oportunidades de vendas. A Palm parece insistir que PDA''s estão mortos quando é evidente que eles apenas perderam o seu público inicial, um PDA deixou de ser exclusividade de empresários ocupados e alta classe e hoje qualquer iPod traz uma agenda de endereços e de compromissos, até o mais pé de boi dos telefones celulares também trás uma agenda horrível, o que faz a Palm achar que o mercado então esgotou-se? Será que um Palm exclusivo para endereços e agenda é mesmo algo tão impensável, com consulta e entradas de dados facilitadas pela tela sensível ao toque em relação a teclados numéricos com três letras por número?

A Palm parecia estar acordando para isso com o Z22, um produto excelente, cores e um design inovador para o velho Zire, fazendo-o mais de um post-it e agenda eletrônica, mas um computador pessoal real e acessível, contudo, o produto ficou disponível nas mesmas prateleiras que os Palms ficavam. Não houve aproximação da marca com o público não usuário, para todos, era uma busca desesperada da Palm por mais vendas, não por novos públicos. E era isso também, só para piorar.

Agora a mesma estratégia que não deu certo no Z22 será repetida nos Smartphones, o Centro está para o Treo como o Z22 está para o TX, uma versão estremamente low-profile mas que, se ninguém dizer ao público corretamente, a que veio este aparelho, só vai parecer mais do mesmo, nova tentativa desesperada de vender mais aparelhos, pelo menor preço.

Para piorar a Palm está agindo como diversos países do terceiro mundo fazem com os de primeiro errado, parece que só copiam os exemplos ruins e deixam as coisas que dão certo intocadas. Assim como fazem Dell e HP a Palm passou a vender seus produtos designados por letra e número do lugar do nome, idéia que sempre me pareceu muito mais intimista e próxima ao público leigo que um código. De novo a Palm parecia ter acertado quando deixou o Palm M100, M500, V, Vx para as linhas Tungstem e Zire, mas retrocede. Será que superstição foi a motivação? "Chefe, reparou como vendíamos bem a Palm V, e agora a Zire 21 está indo mal? Será que não a falta de uma tecnocidade no nome do produto e tudo estará resolvido?" Será que alguém realmente pensa isso?

Nessa, só para cavar um pouco mais o próprio túmulo, a Palm conseguiu em 2007 causar um baita alvoroço para lançar um produto que já existia para, um mês depois de pré vendas, cancelá-lo gritando a todos: "as vendas foram um fiasco, mas vamos chamar isso de re-estruturação". Claro que me refiro ao UMC, ou Ultra Mobile Computer, feito para sincronimo constantes com o Treo e como forma de navegação e redação mais confortável para quando o usuário estiver num hotel ou algo assim. Infelizmente o brinquedo custava USD 600,00 e hoje já existem UMC''s que fazem mais do que sincronizar com um treo por USD 200.00. O produto seria um fiasco de qualquer forma.

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Ah, faltou uma última coisa: o mesmo sistema operacional Palm OS 5.4.1, com pequenas variações de aparelho para aparelho, por mais de 3 anos, quase 4, se bem que esse não é propriamente o mal, mas sim, o fato de uma promessa constante de um novo OS que nunca chega, fazendo a Palm passar por mentirosa e acomodada. Vejam bem, se nunca prometessem um novo OS, talvez ninguém se desse conta que o Palm OS continua o mesmo há tanto tempo, afinal, o software é excelente, robusto e até mesmo, mais confiável que seu concorrente Windows Mobile 5.0. O golpe final foi o ainda melhor Windows Mobile 6.0 que é, realmente, excelente.

E por último, desde o dia 12 a Palm rompeu a oferta do software Java J9 com kit WebSphere da IBM. A promeça é de manter o software disponível para downloads mas sem suportes ou atualizações. Alguém já viu o que isso significa? Que enquanto os Nokia''s mais "pé de boi" executam programinhas bobinhos em Java, de joguinhos à Gmail App e Opera Mini, os Treos, se uma nova versão de Java brotar do dia para noite, ficarão de vez ilhados num sistema operacional mono-tarefa, que mais lembra um Unix dos anos 70 ou MacOS clássico, mais ainda, do tipo pré-OS9!
Há soluções? Claro que há! Quem roda Windows Mobile, adeptos do Windows Mobile 5 ou 6 estão enfrentando problemas também. A instalação de Java no WM5 é sofrível, quase impossível ao usuário leigo. O active sync vem enfrentando problemas nos dois universos que a Palm criou: Windows XP com Office 2007, Windows Vista com Office 2003, qualquer sincronismo com Office 2007 e, por último, a HP retirou a oferta do Outlook 2003 ou 2007 (ou 2002 que fosse!) de seus PDA''s, fazendo os mesmos virem agora com um trial de 90 dias. Detalhe, PDA''s não sincronizam com outro PIM que não o Outlook!
 
Dentre tudo isto, temos o bom e velho PalmDesktop, um produto que sempre funcionou muito bem no Windows XP, com PIM para Outlook e que desde junho de 2007 também vem funcionando razoavelmente bem no Vista. Por que a Palm não explora este buraco, fazendo o PIM com o Outlook funcionar ao contrário? Fazendo os PDA''s com Windows Mobile sincronizarem com o PalmDesktop? Por que não cobrar por este sync e ofertar mais, assinaturas para sync "over IP" e outros? Isso, sem falar de explorar de vez a linha popular que ela tem conseguido criar tão bem, como o Z22 e o Centro.

Agora, enquanto a Palm ver seus produtos populares como isso mesmo, uma linha popular voltada ao mesmo público de sempre, a Palm terá os mesmos resultados de sempre. Poxa, o Z22 é excelente, ainda é identificado como Zire pelos usuários, vamos lançá-lo junto de agendas, nas Casas Bahia, nos Free Shoppings, vamos fazer o público conhecê-lo e desejá-lo. Vamos adicionar WiFi nele e enfiar ele garganta a baixo de todos que sonham com um Palm ou PDA mas acham que é coisa de bacana. E vamos faze-lo via carnê, por que se não for assim, a Palm Inc. pode morrer e eu ficarei sem um produto que eu simplesmente adoro. Vamos fazer algo, mas algo que seja agora, breve, e bem feito desta vez...