Como comentei no artigo de apresentação, antes de focar em alguma tecnologia ou plataforma específica de mobilidade, pretendo discutir certos conceitos sem os quais - em minha opinião - não se tem sucesso com projetos de sistemas móveis.

O primeiro conceito que gostaria de discutir é justamente o conceito de mobilidade. Vamos destrinchar um pouco sobre este tópico e estudar suas definições, história e características. Entendendo um pouco mais sobre o assunto, seremos capazes de desenvolver soluções mais coerentes com o contexto de mobilidade e também mais compatíveis com as reais necessidades dos usuários.

O que é mobilidade?

Segundo Reza B'Far (2005), Sistemas Computacionais Móveis são sistemas computacionais que podem facilmente ser movidos fisicamente ou cujas capacidades podem ser utilizadas enquanto eles estão sendo movidos. Como estes sistemas prevêem tal mobilidade, eles normalmente oferecem recursos e características que não encontramos em sistemas comuns, como por exemplo:

  • Monitoramento do nível de energia e prevenção de perda de dados em caso de pane de energia;
  • Armazenamento de dados local e/ou remoto, através de conexão com ou sem fio;
  • Sincronização de dados com outros sistemas;
  • Etc.

Atualmente, consideramos sistemas móveis os sistemas que são desenvolvidos para rodar em palmtops, celulares, tablet pcs e similares. Pela definição acima, os notebooks também são considerados como plataformas para sistemas móveis, porém o seu estilo de uso não é exatamente o mesmo dos dispositivos mencionados anteriormente (já que exige parar em algum lugar, abrir o notebook, esperar carregar, etc...). Para efeito de classificação, combinaremos que, para ser “móvel” mesmo, um dispositivo/sistema deve oferecer a possibilidade de acesso imediato e com o usuário em movimento.

Vantagens da mobilidade

A vantagem mais trivial da mobilidade é, logicamente, a possibilidade de acessar dados em qualquer lugar e a qualquer momento. Mas as vantagens não param por ai. Com sistemas móveis bem planejados, é possível:

  • Reduzir custos de comunicação, pois você não precisará ligar para outras pessoas para saber informações que seu dispositivo/sistema já possui;
  • Reduzir custos de entrada/processamento de dados, já que, em vez de escrever em papel (que teria que ser re-digitado), você escreverá num formato digital, podendo ser transmitido para outros dispositivos ou sistemas;
  • Otimizar o tempo, já que você terá um sistema ao seu lado que lê dará informações precisas de forma imediata. Além disso, seu sistema poderá enviar e receber informações remotamente, dispensando seu deslocamento para outros locais para receber tais dados;
  • Aumentar seu faturamento, porque com uma maior gama de informações disponíveis nos momentos de negociação, você será mais eficiente e terá melhores resultados.

Não seria possível enumerar todas as vantagens de se utilizar sistemas móveis no dia-a-dia de uma pessoa ou empresa. Além disso, cada tipo de solução oferece conjuntos de vantagens diferentes. Mas esta lista demonstra algumas vantagens “gerais”, e que dão uma boa noção do que se ganha com a mobilidade.

História dos dispositivos móveis

Dentro do conceito de dispositivos móveis que discutimos anteriormente, podemos considerar que a computação móvel começou em meados de 1992, com a introdução no mercado de um handheld chamado Newton, pela Apple. O Newton chegou ao mercado com tela sensível ao toque, 1MB de memória total, e capacidade de transmissão de dados de 38.5kbps. Este modelo não teve muita repercussão, mas é considerado o início dos dispositivos móveis.

 Dispositivo Newton

Em 1996, a U.S. Robotics lançou o (Palm) Pilot 1000 e 5000, dispositivos que tiveram uma grande aceitação nom mercado e lançaram as bases de toda uma plataforma de “Palms” que chegaram a atingir 80% do mercado mundial e existem até hoje. A U.S. Robotics foi adquirida pela 3Com, que depois desvinculou dela a empresa Palm Inc., sendo esta totalmente focada nesta nova plataforma de dispositivos.

(Palm) Pilot 1000

Também em 1996, começaram a surgir dispositivos com o Windows CE 1.0, da Microsoft, como o NEC MobilePro 200 e o Casio A-10. Até o lançamento do Windows CE 3.0 e da plataforma Pocket PC, em 2000, a plataforma Windows CE não teve grande aceitação do mercado. Mas a partir do Sistema Operacional Pocket PC 2000, embutido em dispositivos como o HP Jornada e o Compaq Ipaq, esta plataforma ganhou aceitação do mercado e começou a crescer.

Dispositivos com o Windows CE 1.0

Correndo por fora, a empresa Symbiam foi formada em 1998 por alguns dos maiores fabricantes de celulares do mundo e a PSION, e entregou ao mercado o sistema operacional Symbiam, que roda na maioria dos smartphones e handhelds da Nokia, e detém a maior fatia do mercado europeu atualmente.

Sistema operacional Symbiam

Atualmente o mercado está tendendo para a convergência de recursos nos dispositivos móveis, criando equipamentos que concentram funções de palmtops, celular, câmera fotográfica, gps, etc., além de oferecerem excelente performance, grande capacidade de armazenamento e inúmeras possibilidades de comunicação.

Aplicações da mobilidade

Considero que a computação móvel pode ser aplicada a praticamente todas as atividades e/ou os segmentos de negócio que lidam com informações – é preciso apenas descobrir como. Isto porque todo mundo que trabalha nestas atividades/segmentos se desloca, em maior ou menor grau. Entre algumas das aplicações possíveis, podemos destacar:

  • Consultas de informações e relatórios diversos – de forma online ou offline;
  • Processos de venda (automação da equipe de vendas externa);
  • Processos de contagem/inventário em geral;
  • Gerenciamento de informações em geral – desde lista de contatos até dados de ERPs/CRMs ou Aplicações verticais.

Em outros artigos futuros, vamos discutir em maiores detalhes estas e outras aplicações da mobilidade.

Desafios

Apesar de todos os benefícios que a mobilidade pode trazer, existem desafios e barreiras que precisam ser transpostos para viabilizar certas soluções deste tipo. Podemos enumerar alguns deles aqui:

  • Custo de hardware. Para certas aplicações, são demandados certos dispositivos que têm um custo ainda relativamente elevado.
  • Baixo poder de processamento. Como os dispositivos móveis tem reserva de energia limitada, para garantir uma autonomia de uso razoável, a saída é cortar em poder de processamento das CPUs. Isto faz com que não seja prático realizar certos processamentos mais pesados nos dispositivos móveis.
  • Pouca infra-estrutura de comunicação. A rede de comunicação de dados existente (WI-FI, GSM/GPRS ou EDGE, etc.) ainda não está confiável suficientemente para certos tipos e arquiteturas de aplicações.
  • Mão-de-obra insuficiente. Ainda há uma cultura na área de TI de que desenvolver para dispositivos móveis é a mesma coisa de desenvolver para desktop (Veremos num artigo futuro que isto é um mito). O fato é que há pouca gente no mercado preparada para desenvolver soluções móveis.
  • Interoperabilidade. A comunicação de sistemas móveis com sistemas já existentes nas empresas é um grande desafio, principalmente porque tais sistemas não foram construídos considerando este tipo de interação.
  • Cultura. Tanto as empresas de desenvolvimento quanto os usuários ainda não têm uma cultura de acessar informações de forma móvel. Talvez porque não saibam que podem. Veremos isto em um outro artigo também.

Os tópicos acima dão uma idéia geral do que vem a ser mobilidade e as principais considerações a respeito do tema. Para quem não tinha nenhuma base a esse respeito, acredito que este tenha sido um “pontapé inicial”. A partir do próximo artigo, iremos começar a tratar de questões mais pontuais relacionadas ao assunto.